Era uma vez um cacto. Uma plantinha dessas de ficar na sala, sabe? Pouca água, pouco sol, umas trocadas de terra de vez em quando.... E ele vivia ali, feliz.
Gostava de ficar ali, sozinho, reinando naquela sala – para quem nunca viveu no campo, aquilo era um palácio. E ele era soberano naquela casa, vivia sozinho.
Mas era cheio de espinhos, coisas que a vida deu. Quem mandou nascer cacto?
Eis que um dia surge uma nova planta no apartamento. “Era só o que me faltava, uma concorrente no meu cantinho”, pensou o cacto com arrogância.
Era uma ráfia, dessas grandinhas. Foram colocadas lado a lado, para suscitar todo o ciúme do cacto. Mas não tinha o que fazer. Afinal, eram duas plantas.
A ráfia era uma vegetação de iniciativa e resolveu puxar assunto. O cacto era teimoso, mas logo foi se soltando e percebeu que era muito melhor viverem juntos do que ficar resistente.
Com o tempo, o cacto viu que não estava perdendo em nada. Pelo contrário, eles conversavam bastante e ele adorava isso. Eram muito diferentes, o cacto era muito mais vivido, conhecia os cuidados domésticos de botânica como ninguém. Enquanto isso, a ráfia recém tinha sido comprada num supermercado (quase uma mudinha), mas falava da diversidade de plantinhas que existiam no mundo.
Por mais diferentes que fossem, eles tinham muito em comum. Conversavam sobre os dias de sol, resmungavam sobre os dias de chuva, falavam como estava boa a água geladinha do dia anterior. De vez em quando, até abusavam do adubo.
Mas tinham medo de se encostar. O cacto era coberto de espinhos.
Um dia, do nada, colocaram a ráfia no outro canto da sala. O cacto estava despedaçado, mas era orgulhoso e tentava não demonstrar nada. A ráfia, com seu longo pescoço, tentava procurar pelo cacto, quase sempre sem sucesso.
Nesse momento, eles perceberam como um precisava do outro. Às vezes, é difícil de enxergar o óbvio.
O que restava para eles? Voltarem à solidão da vida das plantas?
Seria assim, mas não foi.
Um dia resolveram mudar os móveis de lugar e colocaram de novo as plantinhas juntas – agora até mais perto da janela.
Eles estavam muito a fim de se encostarem para matar a saudade, mas tinham medo dos espinhos. Então a ráfia percebeu que o cacto não tinha espinho por todos os lados, apenas na volta do seu caule. A ráfia tomou uma iniciativa (como sempre): encostou na parte verdinha do cacto, longe dos espinhos.
– Você nem espeta nada, seu bobo! – disse a ráfia, toda contente.
– Coisa boa esse carinho – respondeu o cacto.
E viveram ali por muitos e muitos anos juntos. Compartilharam a vida e se tornaram grandes parceiros para tudo. Desde esse dia, não se desgrudaram mais.
É normal ter medo dos espinhos. No fim das contas todo mundo tem alguns (uns mais, outros menos). Mas, algumas vezes na vida, a gente precisa agir com tranquilidade para perceber que toda planta tem um lado sem espinhos – até um cacto.
Apenas entenda que existem espinhos. Assim você vai ver que é perfeitamente possível se tocar sem se machucar.
Se você fizer isso, eles simplesmente deixarão de existir.